“Planto flores no caminho para que não me faltem as

borboletas. Foram elas que me ensinaram que o casulo

não é o fim. É o começo."

Day Anne



11 de dez. de 2007

Desapego


Pela ciência, apego é a relação estabelecida pela presença interativa com outra pessoa, desde a mais tenra infância, iniciando com a mãe. É o meio em que estamos inseridos que oferece a possibilidade de apegar-nos a alguém. Nessas relações vinculamos sentimentos, e estes sustentam as relações.
Quando a interação se dá com a mãe, o bebê desenvolve esse vínculo para garantir sua sobrevivência, pois depende de cuidados específicos para tal; lembrando que é uma base segura que resultará na saudável autonomia desse ser.
Se voltarmos o olhar para como se deram as formações vinculares desde a infância, compreenderemos na vida adulta como foi esse processo.
Se não houve porosidade, que se entende como conflitos que deixam marcas nesse momento da vida em que se dá a formação de vínculo materno, a pessoa estabelecerá ao logo da vida vinculações emocionalmente saudáveis. No entanto, se nessa fase há porosidade, na vida adulta esse sujeito tenderá a ter dificuldade em mergulhar na satisfação, vivendo as alegrias de forma superficial, o que gera eterna busca onde nada parece satisfazer plenamente.
Tais pressupostos levam a uma conclusão: a forma como, em bebê, se estabeleceram os vínculos, é fator preponderante e determinante nas nossas relações futuras.
Infelizmente, ocorre que o despreparo e a desinformação acerca do tema, não prepara as mães para o como desenvolver essa interação visando saudáveis relações futuras para aquele “serzinho” que ama tanto.
No geral, é esse amor que acaba delineando suas ações, por instinto.
Construir apegos é, portanto, vital. Mas, e quanto ao processo de desenvolvimento e evolução humana, que implica no desapego necessário para seguir ultrapassando as fases da vida, superando os ciclos vitais?
Desapegar-se é deixar ir, é renunciar, romper laços, compor novos vínculos.
Rubem Alves lembra:

-“Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar.”

Ter a consciência de que há finitude nas relações humanas é estar pronto para recomeçar a cada exigência da vida. Mesmo essa relação materna, tão visceralmente construída, tem seu término com o desprendimento da sua subordinação. É desapegar-se para crescer, para trilhar os caminhos sob o comando de seus desejos, numa trajetória que envolve coragem e novos vínculos.
O desapego transcende o medo, vai além do conformismo diante do temor das mudanças. Em outra instância, desapegar-se é sinônimo de coragem, revendo sonhos desfeitos, frustrações e impedimentos. É também dar permissão, a si e ao outro, de construir novas possibilidades.
É ainda e principalmente, um gesto de grandeza e de maturidade que permite perceber que não houve porosidade na construção de apego nas relações afetivas na infância, pois se desapegar saudavelmente é escolher viver sem escravizar ou submeter a si mesmo ou ao outro.
No romance “A Escrava Isaura”, Bernardo Guimarães foi brilhante ao escrever:O coração é livre; ninguém pode escravizá-lo, nem o próprio dono.”
Cabe lembrar, no entanto, que o enfoque de apego neste texto foi acerca das relações humanas no que se refere a sentimentos e laços afetivos; mas o apego também reflete os mecanismos individuais de preservar bens materiais, conceitos, empregos, valores, arquétipos.
Temos todos o dom de rever, reconstruir, reformular e resignificar paradigmas. Manter aquilo que precisa ser modificado para garantir uma vida mais feliz, leva a uma única questão: a que preço?

♥ Denise

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